Há alguns anos,
quando me mudei para este bairro, havia poucas casas, não tinha asfalto e perto de minha casa, mudou-se uma senhorinha, junto com Nena, sua filha, também uma senhora, mas com deficiência. Na época fiquei feliz, porque não ficaria sozinha na
vizinhança e se precisasse de uma cebola ou café emprestado, elas estariam ali.
Mas, não foi bem
assim, d.Dália, seu nome, era de poucos amigos. Passado alguns meses, uma outra filha
construiu uma casa na frente da casa de d.Dália. Esta filha é uma pessoa muito
difícil de lidar e extremamente encrenqueira. E assim, fiquei “sem” vizinha do
mesmo jeito.
Numa das casas, bem
mais acima, mora a Eugênia, uma vizinha bem simples e que vive de doações. Uma
pessoa prestativa e querida.
O tempo passou e há
mais ou menos 3 anos, d.Dália sofreu um derrame e sua outra filha chamou a Eugênia
para cuidar da mãe, pois ela não nasceu para ser enfermeira de velha. E a
Eugênia sempre me contava sobre a recuperação de d.Dália, inclusive o dia em
que ela foi internada, pois a dobra da barriga (isso quando ela era gorda)
estava em carne viva.
Muitas vezes,
ouvíamos discussão no portão da casa da outra filha, quando outras irmãs queriam
entrar para ver a mãe e para saber sobre a aposentadoria da mãe. Não que eu
ficasse escutando na janela, mas a discussão era tão alta, que não dava para
ficar sem ouvir.
No ano passado, a
filha e seu marido tiveram que mudar de cidade, sem se importar com sua mãe, que não levantava da
cama. Fecharam a casa
da frente, abandonando tudo, inclusive o Pluto, um cachorro lindo e alegre,
aliás, sempre que escapava de seu quintal, vinha em minha casa e fazia a maior
festa comigo e minhas cachorras.
Nena, sem
noção de como cuidar de uma senhora de 87 anos, entravada na cama, teve que
chamar os bombeiros, pois um dia a senhorinha estava passando mal e quando os
bombeiros vieram acudir, tiraram “bolos”
de miolo de pão de dentro da boca da senhora, e os bombeiros ensinaram ela a
alimentar sua mãe, inclusive pediram para a Eugênia ficar mais próxima.
Há um mês, mais ou
menos, ao sair de casa, logo pela manhã, percebi uma ambulância em frente da
casa de d.Dália, e ao descer a rua, encontrei com a Eugênia muito nervosa, e me
contou:
- Ai, vizinha, nem te
conto. Deixei minha nora cuidando da d.Dália e faz 2 dias que a “véia” tava na
cama, com os “zóios” parados, olhando pru teto, não queria comer nada e quando
fui ver, xinguei minha nora e corri de
bicicleta chamar uma ambulância. Você precisava ver o tamanho das unhas do pé
dela, enormes, já entrando “nas carnes” dos dedos. “Muié” do céu! A bunda da “véia”
tava em carne viva. Precisa ver que “judiaria”, com tantos filhos, ficar assim,
abandonada.
E com o passar dos
dias, fui me informando e fiquei sabendo que d.Dália estava internada e os
médicos disseram que não havia mais o que fazer. Até que num domingo deste mês,
ela veio a falecer, pelo menos morreu dignamente, com a atenção carinhosa das
enfermeiras.
Segundo Eugênia, no
velório dela vieram todos filhos, e uma filha que não foi visitá-la
durante os 3 anos em que d.Dália estava “vegetando” na cama, chorava muito, ao
lado do caixão.
D.Dália descansou,
mas, agora ficou apenas Nena e o Pluto certo dia, ao sair de casa, o
Pluto estava na rua e ao me ver, fez a maior festa, pulava, latia, abanava o
rabo e começou a me acompanhar. Voltei, coloquei-o no meu quintal e pedi para
meu companheiro dar ração para ele. Quando voltei perguntei se ele havia comida e
pela resposta percebi que o Pluto não estava se alimentando há muito tempo, por
isso ele estava bem mais magro.
Procurei Eugênia e
perguntei quem estava cuidando do Pluto, ela me respondeu:
- É a Nena, quando
sobra comida, pois tem o cachorro dela, lá atrás. Vizinha, outro dia a “oreia”
dele estava com bicheira e passei um remédio. Sabe àquele remédio azul? Pois é,
os bichos morreu tudo. Também a ‘muié” fugiu daqui e deixou o cachorro.
Condoída com a situação,
fui ao portão e chamei a Nena e perguntei quem estava cuidando do
Pluto e ela respondeu que ninguém e que se sobrava comida ela dava, senão
dava pão. Disse também que a sobrinha ficou de levar ração, mas ela não tem
tempo e não levou. Então pedi autorização para entrar no quintal e dar comida
para o cachorro, ela deixou e é o que estou fazendo.
O meu medo é que, já
que ela “sofre da cabeça”, um dia surtar e não deixar-me levar comida para o
Pluto.
Conversando com outra
vizinha, chegamos à conclusão que não podemos pegar o cachorro, pois a dona é “barraqueira”
e poderíamos nos encrencar. E ela vai ajudar-me com ração. Mas, tenho certeza
que Deus há de encontrar uma solução para o Pluto, quem sabe nos indicando uma
nova casa, cheia de amor e dedicação, para ele. Tenho certeza que Deus há de
ouvir minhas preces. Enquanto isto, vou alimentando-o com muita ternura e muito
amor.
Minha amiga vc é mais um anjo enviado por Deus pra cuidar dos anjinhos de 4 patas, Deus te abençôe!!
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