Sunday, 10 May 2015

A MARIQUINHA




Tenho boas lembranças da minha infância no Dia das Mães. Recordo-me que meu pai, por mais boêmio e beberrão, nunca deixava passar em branco. Era como se fosse um ritual, meu pai nos acordava bem cedinho, pedia para minha irmã, por se a mais velha, fazer café, depois nos colocava em fila no corredor, coloca uma música do Agnaldo Timóteo – Mamãe estou tão feliz – e entrávamos no quarto, cada um com um presentinho e meu pai chegava por último, com o copo de café nas mãos. Era um momento de muita emoção, carinho e sorrisos, depois passávamos o dia alegres, percebendo a felicidade de minha mãe, geralmente o almoço era frango caipira refogado, arroz de forno, maionese e como sobremesa, pudim, que só ela sabia fazer tão gostoso.


Quando eu tinha uns doze anos, passei num armazém (antigamente não havia supermercados, era armazém, venda ou bar, o bar seria as lanchonetes de hoje) e vi uma mariquinha de coar café, linda, de alumínio. Então pedi ao meu pai, que me desse uns cruzeiros, ele, então me deu Cr$ 10,00 (naquela época a moeda do país era Cruzeiro), corri para a venda e tive a maior decepção, pois custava Cr$ 14,00.

Voltei para casa, triste e na minha inocência cheguei perto de minha mãe e falei:

- Mãe, eu queria tanto te dar uma mariquinha, no Dia das Mães, mas custa quatorze cruzeiros e o papai me deu só dez. E agora?

Ela me olhou, foi numa gaveta e completou o valor que eu estava precisando. No mesmo momento, corri até o armazém e comprei a mariquinha, cheguei em casa e escondi o meu presente. No sábado, véspera do Dia das Mães, mostrei para meu pai e no outro dia, lá estava eu na fila, com meu presente. O coração aos pulos, com medo da mamãe não gostar, mas quando ela abriu, com seus olhos marejados de emoção, me abraçou e disse:

- É o presente mais lindo que já recebi. Como soube que eu estava precisando de uma mariquinha?

Abracei-a e chorei de alegria. Essa era minha mãe!

Hoje, o tempo passou e hoje já não a tenho mais, mesmo assim nunca esqueci dos ótimos momentos que passamos juntas. Minha mãe era uma verdadeira coruja e ao mesmo tempo uma leoa para defender seus filhos.

O bom da história é que mãe nunca morre, se perpetua em nossos corações, em nossas lembranças e em nossas saudades.

A mariquinha - suporte para coar café com coador de pano


Moinho para moer os grãos do café.


Uma das últimas fotos de minha mãe, em 2007
Minha mãe foi uma mulher muito elegante



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