MINHA APOSENTADORIA

Nasci menina¹, vivendo minha infância recheada de brincadeiras de rodas, bambolê, brinquei de casinha, de boneca, fui campeã de pular cordas, venci muitas queimadas, me tornei estudante² e assim cresci mulher³ e como num conto de fadas, encontrei meu príncipe encantado⁴ e casei⁵. Tornei-me mãe de três meninos⁶ lindos e abençoados por Deus. 

Mas o destino foi cruel, pois a realidade transformou meu conto de fadas em uma história de separação. Perdi tudo, talvez porque não houve mais responsabilidade, mais disciplina e mais, muito mais amor. De repente me vi desprovida do que mais amava: meu marido, meus filhos e para acrescentar, meu pai⁷ querido faleceu. Tudo num período de 29 dias. Se bem que tudo o que nos acontece de ruim, somos nós mesmos que provocamos e não ouvimos a voz de Deus nos alertando.

 Novamente tive que crescer como mulher, superando os dissabores e só então pude compreender o que era, realmente, viver!

Foi aí que descobri o trabalho. Tornei-me uma funcionária⁸, encontrei meu primeiro emprego, com isso aprendi quanto custa, financeiramente, viver a vida. Quanta alegria ao receber meu primeiro salário!

E nestas mutações, me fiz professora⁹! Foi então que compreendi profundamente o meu dom, o de me doar em prol de alguém que está começando a desabrochar para a vida. Quantas coisas aprendi com os pequeninos! Quantas alegrias, quanto amor puro e sincero!

Sucessivamente o tempo passava, me tornei avó¹⁰. Que lindos meus netos! Que presentes maravilhosos que Deus me deu, mais uma vez! Que dádiva ser chamada de “vovó”.

Contudo a velhice chegou¹¹, e junto à aposentadoria.  Quando jovens, dizemos que não vemos a hora de nos aposentar e quando ela chega, você não sabe o que fazer com esta “parada profissional”.

A tão sonhada aposentadoria não pode representar simplesmente parar de trabalhar, e sim, a troca de ocupação por uma mais agradável. Na nossa sociedade os velhos são bastante discriminados, até mesmo humilhados. A própria expressão “aposentadoria”, na nossa sociedade, por si só é mal interpretada, significando para muitas pessoas “já deu o que tinha que dar”, “tem mesmo que dar lugar aos mais novos”. Quando na verdade o velho deveria representar a voz da sabedoria, da experiência, mas não é isto que acontece, todos sabemos que algumas das aposentadorias são ridículas e a assistência médica, pelos menos, digna, não existe. Os remédios têm valores acima do que recebem e infelizmente restou ao idoso lutar para continuar trabalhando numa sociedade que o considera improdutível.

Vou ter que ter jogo de cintura, criatividade, bom senso e boa vontade para lidar com a minha velhice e a vida está me dando à oportunidade de aprender a lidar com esta triste realidade: a aposentadoria.

1- com minha mãe

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11 - envelheci e com 61 anos me aposentei